A formação do povo - Ensinamento


 A FORMAÇÃO DO POVO JAPONÊS 


ÍNDICE

PRIMEIRA PARTE

SEGUNDA PARTE

TERCEIRA PARTE - ATERCEIRA PARTE - B



PRIMEIRA PARTE

Antes de começar a escrever sobre a formação do povo japonês do ponto de vista espiritual, quero deixar claro que todos esses assuntos que vou expor não estão registrados em nenhum lugar. Gostaria, pois, que lessem sabendo que se trata de algo inusitado, um relato completamente inédito.
Como japonês, acho, que meus compatriotas deverão conhecer essa verdade sobre a qual só agora me encontro em condições de discorrer. São pontos delicados e poderiam gerar uma interpretação inadequada se fossem levados ao conhecimento público antes do término da Segunda Guerra Mundial.
Todos, de um modo geral, sabem que as antigas narrativas históricas sobre a origem do Japão se fundamentam em fatos mitológicos, difíceis de serem compreendidos pelo bom senso.

2.1 - Existência

Com base na mitologia, sabe-se que a mais alta hierarquia divina, cultuada no Japão, é Amaterassu Ookami, entendida como ancestral da família do imperador. Continua, ainda nos dias atuais, presente em espírito, no Templo de Isse.
Sobre essa divindade existem várias versões. A mais confiável é a seguinte: em tempos remotos, a imagem de Amaterassu Ookami permaneceu numa localidade perto de Kyoto, denominada Tanba no Kuni Motoisse (Vilarejo do Estado de Tanba), mas, há mil e cem anos, foi transferida para outro lugar: Yamada no Isse (aldeia de Isse) onde se encontra até hoje.
Consta que, na época da transferência, a imagem estava sendo carregada por algumas pessoas, num palanquim, que ficou extremamente pesado, no momento de atravessar o rio Issuzu. Como não conseguiram mais transportá-lo, resolveram voltar ao local de onde a imagem fora tirada (Templo de Tanba). Nessa ocasião, misteriosamente, uma rocha de mais ou menos dez metros quadrados caiu em cima de um riacho que passa atrás do Templo de Isse e aí ficou "sentada" à beira do rio, onde está até hoje. Recebeu, por isso, o nome de Gozaseki (pedra que senta). Esse acontecimento é interpretado como o desejo da divindade de permanecer ali. Ao lado dessa pedra, há uma caverna denominada Iwato (= porta da rocha), relativamente grande, que serviu de moradia para Amaterassu. Quando, no ano passado (1951), fui a Motoisse (Tanba no Kunimoto Isse), tive oportunidade de ver pessoalmente essa pedra.

2.2 - Origem

A antiga história do Japão, fundamentada na mitologia, fala da existência de um casal de divindades, Izanagui e Izanami, que geraram uma filha chamada Amaterassu Ookami e um filho, Kansussanoo-no-Mikoto.
Kansussanoo foi designado para governar a Coréia e Amaterassu o Japão. Daí o motivo de ela ser considerada ancestral dos imperadores.
Amaterassu gerou um menino chamado Hiruko-no-Mikoto. Se isso for verdade, deverá haver o esposo, mas dele não se tem notícia. Até hoje, contudo, ninguém procurou desvendar o enigma porque esse tipo de investigação, antes da Segunda Guerra, significaria irreverência; por isso, não se teciam comentários sobre o assunto. Agora já não há mais esse receio; portanto, eu posso escrever tranqüilamente e comentar o fato.
Assim, então, vejamos: de acordo com a antiga História, um povo de nome Tenson, liderado por Minigui-no-Mikoto, desceu do céu e se instalou no alto da montanha Takachiho, situada na ilha de Kyushu (sul do Japão). Mais tarde, o neto de Miniguimo se tornou imperador desse povo com o nome de Jinmu (também chamado Kamu Yamato Iwarehiko-no-Mikoto). Quando atingiu 45 anos, organizou um exército para conquistar o leste do Japão. Segundo consta, avançou em primeiro lugar para Yamato (atual Nara). Houve lutas pouco favoráveis ao exército do imperador Jinmu que, por isso, perdeu a guerra, tendo, também, morrido em combate o seu filho primogênito de nome Itsusse-no-Mikoto. Desolado, Jinmu percebeu que a causa do insucesso fora ter-se encaminhado para a guerra seguindo na direção Leste, contra o Sol. Resolveu, então, dar uma grande volta, dirigindo-se pelo Oeste, mantendo, portanto, o Sol às costas, até atingir novamente o Leste, região que desejava conquistar. Com essa estratégia, venceu a guerra e organizou o governo de Yamato. Não conseguiu, contudo, dominar toda a região do leste, por que ali já havia outras bases militares muito bem organizadas, num local chamado Izumo no Kuni (aldeia de Izumo), bem longe de Yamato. Na verdade esse assentamento militar era a sede central do governo do Japão (o Izumo-cho) chefiado por Ookuninushi-no-Mikoto.
Mesmo assim, a partir de então, passaram a existir dois governos distintos: o de Yamato, regido por Jinmu, e o Izumo-cho de Ookuninushi.
Para resolver a questão, o imperador de Yamato mandou a Izumo dois representantes com a missão de propor o final da guerra, mas não conseguiu êxito. Foi realizada uma segunda tentativa, também malsucedida.
Nos dois casos, o motivo do insucesso foi que o inimigo (Izumo-cho) ludibriou os emissários do imperador Jinmu, oferecendo-lhes bebidas alcoólicas e mulheres.
Enfurecido, Jinmu tentou uma terceira vez, usando meios mais vigorosos, com a finalidade de conseguir o seu objetivo. Para isso, nomeou um general do Exército, Takamikazuchi-no-Mikoto e um almirante da Marinha, Futsumushi-no-Mikoto. Assim planejou atacar por terra e por mar. Diante da situação, Ookuninushi-no-Mikoto se assustou e se entregou sem lutar. Como resultado, o poder passou do povo Izumo para o povo Tenson (= Jinmu).
Agora vou narrar alguns episódios que se afastam, um pouco, da idéia principal.
O primeiro diz respeito ao casamento do segundo imperador, Suize (filho de Jinmu) com a filha de Ookuninushi (derrotado na guerra). Eu penso que essa união tenha sido um ato político do perdedor, pensando numa pacificação futura dos dois povos.
O outro acontecimento de grande importância foi a construção do Templo de Kashima no estado de Miyagui, em homenagem póstuma a Takamikazuchi-no-Mikoto, responsável pela grande vitória sobre o povo Izumo. É o mais antigo templo xintoísta do Japão.
A partir daí, tornou-se costume, entre os soldados japoneses, antes de irem para a guerra, visitar o local a fim de pedir proteção durante as batalhas. Desse hábito, surgiu no exército o lema Kashimatashi (partir de Kashima) que significa ir primeiro ao Templo Kashima e, depois, partir para a guerra.
Na verdade, tais lutam significam que, no plano espiritual, aqueles dois primeiros povos continuam vivos e ainda guerreando, ou seja, embora já se tenham destruído uma vez no plano físico, ainda hoje prosseguem renascendo nos seus sucessores e lutando pelo poder, de uma forma mais ou menos idêntica.
É preciso, pois, ficar bem claro para todos que a mudança de governo daquela época foi a raiz de todas as guerras ocorridas no Japão visando à conquista do poder. As lutas entre esses dois grupos marcam também o começo de todas as outras desavenças internas. Entretanto, ninguém sabia disso antes, porque foi um movimento cuja origem está no Mundo Espiritual. Os historiadores registraram somente dados superficiais resultantes de investigações feitas apenas no plano material. Foi assim até o término da Segunda Guerra Mundial.
Agora, porém, estou apresentando o meu ponto de vista, fundamentado nos fenômenos espirituais, para explicar os fatos ocorridos e os que ainda acontecem no Mundo Material.
Voltando ao início da história do povo Tenson, o qual, segundo a mitologia, desceu do céu, instalou-se no topo da montanha do Takachiho e aí permaneceu durante algum tempo, pode-se dizer que é uma narrativa realmente absurda. Segundo esse relato, Ugayafukiaezu-no-Mikoto, filho de Tenson Minigui-no Mikoto e pai do imperador Jinmu, foi enviado por ordem de Amaterassu Ookami para governar o povo Tenson. Se for assim, pode-se afirmar que a autoridade suprema estava nas mãos dessa divindade que, por sua vez, teria recebido esse poder de outra superior. A mitologia não esclarece, contudo, essa particularidade.
Ainda mais uma coisa: não existe, na mitologia, uma explicação clara sobre a origem e local de nascimento de Minigui-no-Mikoto, nem uma justificativa do motivo pelo qual recebeu a autoridade para liderar o povo Tenson quando se instalaram na montanha de Takachiho. Se for verdade que ele desceu do céu, não é necessário comentar mais nada. Mas, conforme já falei no começo, quem tinha o poder do governo do Japão, antes do imperador Jinmu, era Ookuninushi-no-Mikoto (instalado no Leste). Então, uma vez que o poder central do governo estava nas mãos de Ookuninushi-no-Mikoto, não existe lógica no fato de Amaterassu ter cedido esse poder a Minigui-no-Mikoto e nem haveria necessidade de Jinmu lutar pela conquista, pois já teria automaticamente recebido o governo, por ordem divina. Entretanto, não foi o que aconteceu, pois os generais de Jinmu tiveram que lutar contra o povo Izumo.
Outra hipótese possível é que, em épocas remotas, Susanoo-no-Mikoto, pai de Ookuninushi, se tenha apossado do poder ou, talvez, este lhe fora entregue por algum motivo não esclarecido pela mitologia. Tais aspectos permanecem, até hoje, totalmente obscuros.
Por outro lado, a história do governo do Izumo tem mais credibilidade. Sobre ela, vou discorrer.
Há alguns anos, estive visitando o Templo do Izumo, atrás do qual existe uma praia denominada Hinomi-Zaki. Segundo uma explicação que me foi dada pelo sacerdote do templo, todos os anos, no começo de outubro, os deuses saem para visitar a terra natal, partindo daquela praia. Após um mês, voltam novamente para o Templo do Izumo, que é dedicado a eles.
Por essa lenda, não tive mais dúvida quanto às minhas deduções de que os deuses do Izumo não são originários do Japão, mas emigraram de outros países.
Outro fato que fundamenta a minha conclusão é que, desde antigamente, o mês de outubro é considerado o período do Kannazuki, ou da ausência dos deuses, devido ao fato de eles estarem viajando para outros lugares. Também o livro de mitologia mais antigo do Japão (Kojiki) fala que o pai de Ookuninushi-no-Mikoto é Susanoo-no-Mikoto, que desceu a montanha Soshimori da Coréia, sendo, portanto, uma divindade coreana. A mitologia diz também que ele matou a enorme cobra Yamata-no-orochi, no alto (próximo à nascente) do rio Hi, localizado no Izumo, e salvou a princesa Kushinada, tendo-a depois recebido como esposa e construído para ela um grande palácio chamado Suga, onde hoje é o Templo do Izumo.
Consta, também, de acordo com a mitologia, que, ao entrar pela primeira vez nesse palácio, Susanoo sentiu o frescor do ambiente e o achou muito agradável; por isso, denominou-o Sugano-miya. O casal viveu aí um intenso amor num clima de muita harmonia. Tamanha felicidade levou Sussanoo a fazer, em homenagem à sua esposa, um poema denominado Yagumo no ritmo do waka (5-7/5-7/7) cujo conteúdo vem a seguir:
Yagumo tatsu
Izumoyaegaki tsumagomeni
Yaegaki tsukuru sonoyaegakio
(Surgiram nuvens
formando uma cerca de oito voltas.
Oito voltas de nuvens cercam o palácio real.)
Este poema marca o início das composições com 31 sílabas que vão dar origem ao waka (criação japonesa), tendo Susanoo-no-Mikoto sido o primeiro compositor neste estilo.
Falando ainda sobre a origem de Susanoo-no-Mikoto, segundo a mitologia, sabe-se que há três gerações divinas identificadas com o mesmo nome: Kansusanoo (pai) Hayasusanoo (filho) e Takehayasusanoo (neto). Após essas gerações, as quais, segundo eu penso, ainda continuam se manifestando, é que nasceu Ookuninushi-no-Mikoto.
Grande importância tem ainda a correlação desses fatos com o ritual do Templo de Izumo, onde uma lamparina permanece ininterruptamente acesa, sendo sempre substituída antes que se apague. É uma cerimônia que já dura há mais de dois mil anos. Essa simbologia deve ter um significado bastante profundo. Eu penso que seja o da não-interrupção da linha sangüínea de Susanoo, até o dia em que ele possa recuperar o governo do Japão novamente.
O que vou dizer a seguir foge um pouco do assunto anterior. Ookuninushi-no-Mikoto (o que perdeu a guerra) tinha dois filhos: Kotoshironushi-no-Mikoto, o primogênito, e Takeminakata-no-Mikoto. O mais velho era uma pessoa extremamente cordata e aceitou facilmente a derrota. Já o segundo não se conformou de jeito algum e resistiu com bravura ao inimigo. Foi perseguido e chegou até perto do Lago Suwa no Estado de Shinshu, ao norte do Japão. Finalmente, atirou-se ao lago, tendo assim terminado a vida de modo trágico. Nesse mesmo local, hoje, encontra-se o Templo Suwa.
A partir de agora, os fatos que vou relatar me foram revelados por Deus.

7.1 – O povo Yamato

Relembrando o que disse no começo, quando Kanssussanoo veio da Coréia para o Japão, desembarcou no Sul, numa região chamada Izumo no Kuni. Mas quem o governava, nessa época, era o imperador divino Izunome, o qual, segundo me parece, foi, desde antigamente, o verdadeiro dirigente do Japão, originário do povo Yamato, uma estirpe cuja principal característica é não gostar de conflitos e ser, ao extremo, amante da paz. No confronto de forças com o invasor, Izunome não ofereceu resistência e, sentindo que sua vida estava em perigo, fugiu, atravessando o mar e indo para outro país. Quem ficou no lugar dele foi um filho, o imperador Amaterassu, o qual faleceu em circunstâncias das quais não se tem informações precisas. Sua esposa, a imperatriz, continuou no poder, mas a situação do povo Yamato foi-se tornando cada vez mais precária, não havendo outra alternativa senão aceitar a exigência de Susanoo-no-Mikoto. Foi, então, firmado um acordo de paz entre ambos (a imperatriz Amaterassu e Susanoo), numa região denominada Ame no Yasugawara. Esse contrato encontra-se no mais antigo livro japonês da mitologia, o Kojiki.
De acordo com as determinações do tratado, ficou estabelecido que o Lago Biwa (o maior do Japão, localizado bem no centro do país) seria o marco divisor das possessões territoriais: a parte oeste pertenceria a Susanoo-no-Mikoto e o lado leste ficaria para a imperatriz Amaterassu.
Nota: (Na parte leste do Lago Biwa, existe uma aldeia chamada Yasu, onde, acredito eu, tenha sido assinado esse acordo de paz).

7.2 – O tratado de paz

Agora, é preciso saber quais as verdadeiras razões que determinaram o estabelecimento do referido tratado. Na realidade, Susanoo o aceitou com segundas intenções. Inicialmente governaria conforme as determinações estabelecidas, mas depois conquistaria o outro lado e dominaria todo o Japão.
Já naquela época, entretanto, a situação não permitiria que ele fizesse tudo de uma vez, pois não teria, de imediato, o apoio necessário. Com certeza, a opinião pública iria levantar-se contra ele. Então Susanoo esperou a chegada de uma oportunidade para manifestar sua verdadeira intenção. Assim, foi que exigiu da imperatriz Amaterassu, ameaçando-lhe a vida, que cedesse o poder do lado leste. Não tendo como resistir, ela decidiu, sem apego algum, abandonar o trono. Desse modo, escapou do perigo e, acompanhada de poucos auxiliares, empreendeu a viagem de fuga.
Quando soube disso, Susanoo-no-Mikoto mandou que seus exércitos acabassem definitivamente com ela. Não foi, contudo, vitorioso no seu intento, pois a imperatriz conseguiu livrar-se da perseguição.
Finalmente, Amaterassu estabeleceu residência no topo da atual montanha Minakami, no Estado de Shinano no Kuni (extremo norte do Japão). Entretanto, mesmo aí, não conseguiu muita tranqüilidade. Então, visando à maior segurança, penetrou mais para o interior e passou a viver dentro de uma montanha chamada Togakushi (Lugar da Porta Escondida), um local escuro, sem luz. Há, inclusive uma história mitológica dizendo que, quando se abriu a porta da rocha (isto é, quando a rocha foi escavada) essa porta voou pelos ares e caiu em cima da montanha, deixando-a bem escondida.
Uma outra narrativa fala da vinda, bem mais tarde, muito depois de Susanoo-no-Mikoto, de outro herói pertencente à dinastia chinesa Chou, chamado Tenson Minigui-no-Mikoto, cujo antepassado tem o nome de Banko Shinno (Rei Divino de Banko). Este é considerado, na China, como se fosse Amaterassu; rei da linha solar, o homem divino, também conhecido como Banko-Shi.
Quando Banko-Shinno tomou conhecimento de que o Japão estava dominado por Susanoo-no-Mikoto, resolveu reagir, mas morreu antes de conseguir o seu intento. Então, assim, a conquista só vai ser concretizada mais tarde por um grande líder da terceira geração Banko-Shi chamado Kamiyamato Iwarehiko-no-Mikoto (que é o mesmo Minigui-no-Mikoto).

SEGUNDA PARTE

Após um longo período de lutas, teve início o governo do imperador Jinmu, que começou a pacificar os quatro cantos do Japão.
Aconteceu, porém, que as tribos nativas, espalhadas por toda parte, já tinham bastante poder e ofereceram resistência à conquista militar empreendida pelo povo Tenson. Entre elas, a história registra os grupos Yasotakeru, Nagasunehiko, Kawakami Takeru, Kumaso, além de outros.
Como, porém, o exército do imperador Tenson era mais avançado em equipamentos e armas de guerra, a maioria das regiões foi conquistada e o povo submeteu-se ao novo governo.
Algumas tribos, contudo, até hoje ainda resistem à dominação e continuam fugindo, vivendo isoladas, sem participar da sociedade.
Considerando, então, todos esses aspectos, o povo japonês apresenta quatro ramos distintos: o grupo Yamato, raça pura, que seguia o imperador Amaterassu; o Tenson, da linha de Minigui-no-Mikoto; o Izumo, da estirpe de Susanoo-no-Mikoto, e as quatro tribos nativas.
A linha do povo primitivo veio de uma região chamada Kokasasu. Atravessando a Mongólia, Manchúria e Coréia do Norte, chegou à península do Aomori, ao norte do Japão, e foi penetrando, pouco a pouco, no país, até chegar em Kinki (região de Kyoto, Osaka). Não existem sinais de que tenham ido mais além.
Dentro dessa linhagem primitiva, existem duas manifestações culturais distintas, conforme comprovam os diversos objetos de pedra e cerâmica, descobertos pelas diversas escavações realizadas atualmente em todas as partes do Japão: uma é a dos nativos (4 tribos) e outra, a do povo Yamato, cujo estilo, denominado Yayoi, na arte de fabricar cerâmicas, é muito evoluído.
Conforme já falei, quem conseguiu dominar e governar o Japão foi o povo Tenson, cujo poder se estendeu até o fim da Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, durante esse longo período, de vez em quando, aparecia um dirigente de origem pura, como, por exemplo, o imperador Nintoku, a imperatriz Komyo e o imperador Komyo. Por sua vez, a linha de Susanoo-no-Mikoto continuou lutando de todas as formas possíveis para reconquistar o poder. Então, sempre houve uma guerra persistente (o Nanbokucho) (1336 a 1392) entre o governo do Norte (hokucho), liderado pelo povo Tenson, e o do Sul (Nancho), chefiado por Izumo. Portanto, a disputa entre essas duas linhas foi tecendo, no correr dos séculos, a história do povo japonês.
Como uma primeira conclusão, pode-se afirmar, que, para entender todas as particularidades da verdadeira história do Japão, é necessário conhecer esse princípio básico de disputa que sempre caracterizou a sociedade japonesa.
Uma das últimas manifestações de luta pelo poder foi a da era Tokugawa ou política do Shogun (como é conhecida no Ocidente, ou Bakufu, no Japão). Neste caso, quem venceu foi a família Tokugawa, que dominou durante 264 anos (de 1603 a 1867), com sede em Tóquio, embora o imperador continuasse em Kyoto.
Sobre o verdadeiro objetivo da política do Shogun, não há necessidade de falar. Ela simplesmente assume o poder que deveria ter ficado nas mãos do imperador.
O primeiro governante desse período foi Ieyasu Tokugawa. Muito esperto, evitou a realização imediata de suas pretensões, procurando elaborar antes um plano estratégico bem fundamentado, tentando prolongá-lo o maior número de anos possível, para não colocar a opinião pública contra ele.
Assim, ao longo do período de domínio, adotou meios que fizessem o povo esquecer a presença do imperador. Sob este aspecto, dá para perceber a perspicácia da inteligência de Ieyasu.
Entre as medidas tomadas por ele, uma foi a diminuição drástica das despesas com a família imperial. Passou a dar-lhes apenas 10.000 goku de arroz, quantia equivalente a 300.000 sacas anuais. Era, de fato, uma quantia irrisória. E, ainda, para completar, nem isso, às vezes, oferecia.
Na verdade, Tokugawa deixou o imperador na miséria. Para comprovar esse fato, basta lembrar que a família dele, governante, recebia, no mesmo período, oito milhões de goku de arroz.
Nessa época, quase sempre, o príncipe e futuro imperador Meiji, que tinha, mais ou menos, sete anos, não podia, devido à escassez de alimentos a que sua família fora submetida, tomar um lanche. Então, o dono da Toraya, uma famosa loja de doces do Japão, sentia muita pena dele e ofertava-lhe doces à vontade.
Mais tarde, quando se tornou imperador (1868 a 1910), uma de suas primeiras determinações foi chamar o dono da Toraya e dar-lhe a concessão, em caráter irrevogável, do serviço do palácio, bem como de toda a aristocracia, em agradecimento pela profunda fidelidade ao príncipe, na época da crise imposta pelo governo inimigo. Ainda hoje, a loja Toraya abastece o palácio imperial.
De fato, nesse período de despotismo, toda a aristocracia enfrentou sérias dificuldades, sendo obrigada a fazer serviços extras para sobreviver.
No final do regime, a situação da família Tokugawa e dos feudais que lhe eram fiéis também não ficou muito diferente no que diz respeito à vida de restrições enfrentada pelos aristocratas. Eles, que constantemente se orgulhavam da riqueza e do luxo, passaram a ter sérios problemas para se manter e oferecer sustento aos feudais pertencentes ao mesmo ramo familiar.
Assim, a maioria deles não teve outra alternativa senão pedir dinheiro emprestado a grandes e ricos comerciantes, oriundos do povo; dando, em troca, objetos valiosos ou de arte. São famosos os nomes de Tatsugoro, Yodaya e Zenemon Koonoike, por terem socorrido os Tokugawa.
Consta que até hoje a família de Koonoike tem um cofre do tamanho de 10 casas, onde estão guardados inúmeros objetos preciosos que muitos aristocratas feudais deram em garantia das compras efetuadas. Por esse fato, dá para concluir que os servidores de Tokugawa ficaram também extremamente empobrecidos. Muitos deles precisaram trabalhar até em outro emprego para sobreviver. Entretanto, apesar dessa situação calamitosa, alguns não perderam a importância. Daí o surgimento de um dito popular que expressa muito bem a atmosfera da época: "Samurai usa orgulhosamente o palito, mesmo sem comer".
Mas, afinal, qual foi a causa do enfraquecimento de Tokugawa?
Foi mais ou menos semelhante ao que ocorre hoje com os países: dificuldades financeiras.
Na época, a única fonte de renda dos Tokugawa era a produção de ouro, que drasticamente começou a cair, especialmente quando as minas da ilha de Sado, que pertenciam à família Tokugawa, acabaram.
Mas é bom lembrar que não só a era Shogun se aproveitou da exploração das minas. Desde antigamente, quem assumisse o governo, sem exceção, se detinha no comércio de ouro. Assim foi com Yoritomo Minamoto (1190 a 1199), que chegou a escravizar um especialista famoso chamado Kitiji Kamahori que tinha sido discípulo de Yoshitsune, a fim de procurar e achar minas do tão precioso metal.
Mais tarde, a mesma história se repete com outro famoso governante de nome Hideyoshi Toyotomi, que também ficou famoso pelos esforços concentrados na busca de ouro.
A seguir, como já vimos, aparece Ieyasu Tokugawa que não foi diferente e concentrou inúmeros esforços para encontrar ouro. Contratou um dos especialistas mais habilidosos da época na descoberta de minas, chamado Yuwamimori Ookubo. Atribuiu-lhe um cargo de grande importância, mandando-o à procura do valioso metal pelo Japão inteiro. Assim foram descobertas duas grandes minas: a de Izu e a de Oohito, que possuíam ouro de excelente qualidade e em abundância. Juntamente com a mina de Sado, atingiram uma produção fabulosa que permitiu até a construção do Templo Toshogu, onde foi empregada grande quantidade de ouro, resultante de um projeto elaborado por Iemitsu (neto de Ieyasu Tokugawa).
Por esses fatos, pode-se perceber como era estável a parte financeira do governo Tokugawa. Por outro lado, dava-se muita importância ao Kanjoobugyo (Ministério da Fazenda). Sempre foi colocado nesse cargo um profissional competente para administrá-lo.
Apesar de tudo isso, como já lhes falei anteriormente, quando o período Tokugawa estava chegando ao fim, a produção de ouro começou a diminuir drasticamente, com a falência das minas de Oohito e Sado. Portanto, não tenho dúvidas de que a decadência financeira do governo foi a causa fundamental do desmoronamento do poder dominante.
É certo também que, nessa mesma época, surgiram muitos militantes contrários ao regime de Tokugawa, querendo derrubá-lo. Foi, então, que dois feudos, Satsuma e Tyoshu, se revoltaram, realizando, muito antes que o povo imaginasse, o grandioso renascimento do reino, com a revalorização da família imperial.
Mas a causa principal da derrocada de Tokugawa, com certeza, foram as dificuldades financeiras que, por sua vez, constituíram a base de todo o processo de transformação, através do qual o imperador retoma a sua autoridade de fato, promulgando uma constituição que gerou grandes mudanças em todas as áreas sociais. Dessa forma, estabeleceu-se no país a monarquia sólida de que todos têm conhecimento.
Finalmente, após a vitória em duas grandes guerras (contra a China e Rússia) fortaleceu-se ainda mais o poder real e o Japão entrou para o Primeiro Mundo, tornando-se um país forte, com um império bem estruturado, mesmo que visto subjetivamente.
A partir de agora, já posso explicar o processo de mudança ocorrido no Mundo Espiritual.
Susanoo-no-Mikoto, mesmo tendo perdido o poder, continua usando de todos os subterfúgios para reconquistá-lo, sem, contudo, revelar as suas intenções mais profundas. Por sua vez, também o imperador Jinmu vem planejando e, pouco a pouco, manifestando mais abertamente o seu objetivo. O que já se concretizou no Mundo Material foram os fatos ocorridos a partir do governo Fujiwara (889 a 1184), quando começam os conflitos pela conquista do domínio do país, entre as duas linhas: a chinesa (Tenson) e a coreana (Izumo) através dos seus representantes: Dokyo e Wakeno Kiyomaru; Kiyomori e Shiguemori; Tokihiri e Michizane; Tokiuji e Masashigue e, a seguir, a época Tokugawa, da qual já falei.
Há, porém, ainda, um ponto fundamental que ninguém percebe e sobre o qual vou falar agora.
A linha do Izumo, embora tivesse lutado durante dois mil anos, não conseguiu atingir seu objetivo. Então resolveu mudar a estratégia. Dando uma guinada de cento e oitenta graus, abandonou as armas e procurou, por meio da religião, conquistar o poder. Utilizou-se dos vários ramos do Xintoísmo, com épocas e fundadores diferentes, tais como: Tenrikyo, Oomotokyo, Konkoukyo, Myoreikyo e Kurozumikyo, cada um deles com planos muito bem elaborados. No Budismo, a linha Izumo serviu-se do ramo Nichiren que hoje é, no Japão, uma potência[1].
Dentre todos esses grupos religiosos, o que conseguiu melhores resultados foi o Tenrikyo, cujos ensinamentos, chamados Ofudesaki e Okagura (ambos psicografados) manifestam explicitamente a intenção de conquista.
Também uma parte importante desses escritos fala muito claro que o imperador do Japão é de origem chinesa. Num dos trechos do Okagura está escrito assim: "a verdadeira coluna do monte alto é chinesa. Esta é a ira principal de Deus". Essa passagem significa o seguinte: o imperador é "a verdadeira coluna do monte alto." O deus irado, nem precisa dizer, é Susanoo-no-Mikoto.
Outros poemas da Doutrina Tenrikyo referem-se à maioria dos funcionários do governo como sendo de linha chinesa.
Um tempo atrás, eu vi esse mesmo assunto referente ao imperador publicado abertamente no livro de Aijiro Oonishi, fundador do Templo Tenrihondo, sediado em Osaka, cuja doutrina se expande rapidamente. Por causa dessa divulgação, Aijiro ficou preso durante quatro anos.
Também os ensinamentos da Oomoto, no livro Ofudesaki, psicografado pela fundadora, têm idêntico sentido de crítica ao imperador, achando ser ele de origem chinesa. Por essa razão, conforme se sabe por notícias de jornal, a igreja foi perseguida de 1922 a 1935[2].
A Oomoto, na verdade, passou a constituir uma espécie de exército em oposição ao imperador e, por isso, recebeu um ataque fatal. Já a Tenrikyo escondeu os ensinamentos que comentam tais assuntos e criou uma nova doutrina sem referências à origem da monarquia japonesa; por isso cresceu e se expandiu bastante. Atitude habilidosa e inteligente do dirigente!
Sobre os demais ramos, não vou falar nada porque constituem pequenos grupos pouco influentes.
No Budismo, a linha Nichiren foi a que causou maiores problemas. Entre os seus seguidores, há um grupo tremendamente agressivo que penetrou no âmago do Exército Japonês e provocou dois grandes incidentes: o de 15/05/32 e o de 26/02/36. Com essas duas tentativas, os militantes favoráveis a Nichiren tinham a intenção de retomar o governo através de um golpe militar.
Quando se analisa do ponto de vista espiritual o incidente de 26/02/36, percebem-se causas muito mais profundas, sobre as quais ainda não posso falar porque não é chegado o tempo propício.

TERCEIRA PARTE - A

Conforme já escrevi, o povo japonês origina-se de quatro grupos distintos. Um deles corresponde ao tronco Yamato, gente originalmente pacifista que sempre demonstrou aversão a lutas. Por isso, na época, possuía um governo tranqüilo e harmonioso. Levava uma vida cheia de alegria e felicidade, embora contasse com poucos recursos e uma cultura bem primitiva.
Então, durante muitos anos, o povo Yamato viveu pacatamente, sem preocupação alguma com invasões. Assim, o sonho de paz foi alimentado por um longo período de tempo, tendo, porém, sido desfeito repentinamente com a chegada de Susanoo-no-Mikoto. Com isso, o ambiente social sofreu completa modificação, e assim permaneceu centenas de anos, enfrentando conflitos, até chegar o final do governo do imperador Jinmu. Depois foi estabelecido um ambiente de paz, mais sereno, embora, bem no fundo, a sociedade sentisse a existência de duas correntes diversificadas; havia, portanto, um clima de intranqüilidade e estranheza.
A partir daí, à medida que a população aumentava, foi iniciado um sistema de vida mais sistematizado, com instituições definidas em todas as áreas. Até o próprio governo passou a exigir o chamado "tributo de produção", um tipo de imposto pago com a parte proporcional dos produtos conseguidos por cada pessoa. Há, inclusive, dessa época, um famoso poema do imperador Nintoko que define bem a situação:
Ao lugar mais alto
subindo, vejo fumaça saindo.
O forno da casa do povo em atividade.
Na verdade, através desse poema, pode-se perceber que o povo tinha o que comer, mas não era tão afortunado quanto se imaginava. Então, o imperador resolveu abaixar os impostos.
O povo continuou vivendo um período de calma (de mais ou menos mil anos), embora nada de extraordinário tivesse acontecido na vida social dos japoneses. A partir dessa época, entretanto, aconteceu uma grande revolução. Com a chegada do Budismo, no ano 538 d.C., durante o império de Kinmei, teve início uma cultura fantástica, influenciada pela arte búdica e por todas as outras manifestações de conhecimentos com as quais o budismo estava envolvido.
Depois veio o tempo do imperador Suiko; a seguir, três outros períodos distintos, com vários imperadores cada um, a saber: Assuka, Tempyo e Hakuhoo. Nessa época floresceu uma cultura magnífica, com manifestações grandiosas em todos os níveis. O príncipe Shotoku, por exemplo, construiu o Templo Horyu, obra genial de arquitetura, seguindo os modelos da Índia. Mais tarde, foi edificado o Templo Todai, do Grande Buda, cuja estrutura revela a grandiosidade da arte do budismo, admirada pelo mundo inteiro.
Analisando todos esses fatos, pode-se perceber, através deles, como foi exemplar o passado do povo Yamato. A começar pelo príncipe Shotoku, que foi um grande homem e amante da paz.
Em seguida, veio a época do Fujiwara (930 a 1196 d.C.). Nesse tempo, começam a brotar as sementes dos conflitos entre as duas linhas, a Tenson (chinesa) e a Izumo (coreana). O povo começou a perceber que estava sendo iniciado um período de guerras. O grupo Yamato, contudo, sempre contrário a discórdias, voltou-se para a literatura, tendo então surgido alguns livros famosos: Guenji Monogatari (História do Guenji), Tsurezuregusa, Makura no Sooshi, Isse Monogatari (História do Isse), além de outros. Algum tempo depois, aparecem dois livros de poesia: Mani-o-Shu e Kokin-Shu. Todos eles constituem uma literatura tipicamente japonesa.
A partir dessa época, começaram a surgir outros literatos: Murasaki Shikibu, Kenkoo, Hitomaro, Saigyo, Basho, etc.
Também são desse período alguns calígrafos famosos, que se notabilizaram na Arte da Letra. Entre eles, Tsurayuki, Doofu e Yukinari.
Entretanto, a maior tendência artística do povo Yamato está representada pelas Artes Plásticas, que também começou a manifestar-se com maior intensidade no período Fujiwara, sob a influência do budismo. Assim, então, podem ser citados: na pintura, Tyohodenshi, Kozeno Kanaoka, Tobasojo e outros; na escultura, Kuukai, Gyoki; na técnica do Sharon (Makie), muitos autores anônimos, surgidos desde a época Tempyo. Além disso, é uma arte peculiar do Japão; não existem representantes no exterior, o que pode ser considerado motivo de orgulho para o país.
É importante, ainda, não esquecer os artistas mais notáveis que contribuíram para o enriquecimento da arte japonesa. Entre eles, está Yoshimitsu Ashikaga, Yoshimasa Ashikaga. Foram eles que construíram o Templo dourado Kinkaku e o prateado Ginkaku. Além disso, ambos importaram muitas obras de arte chinesa, nesse período, especialmente as famosas pinturas da Dinastia Song e Yuan. Não só escolheram obras excelentes, como também empreenderam grandes esforços para conservá-las. Por isso, até hoje podem ser apreciadas na coleção Higashiyama Gyobutsu.
A maioria dos objetos de arte importados da China está atualmente tombada como tesouro nacional. Daí pode-se constatar o grande valor desses dois artistas importadores e a contribuição inestimável deles para o enriquecimento do patrimônio cultural japonês.
Pode-se também afirmar que os modelos chineses serviram de base à pintura japonesa e, por outro lado, deram origem à Escola Kanoo, em cujo estilo predomina o dom artístico do povo Yamato.

TERCEIRA PARTE - B

Quando teve início esta fase, a escultura, que já havia começado a desenvolver-se, atingiu um alto nível de perfeição, principalmente as que foram influenciadas pela arte do budismo.
Apareceu, então, um famoso escultor, Unkei, grande mestre da época. Aconteceu, porém, que as guerras se intensificaram e o lado da cultura pacífica foi ficando adormecido.
Depois de certo tempo, contudo, um grande político, Hideyoshi Toyotomi (1585), conseguiu pacificar o Japão e, de repente, passou a existir um ambiente de alegria e felicidade e as artes afloraram novamente.
Pode-se dizer que esta época, de uma forma mais ou menos misteriosa, coincidiu com a Renascença européia. Neste período, surgiram, como nuvens no céu, muitos mestres e grandes homens na área cultural. Por exemplo, na pintura, Sotatsu, com uma técnica própria, individual, criativa; no Makie (arte do Sharon), o artista mais famoso desta época foi Koetsu, que também se notabilizou como ceramista e calígrafo (arte da letra); na cerimônia do chá, Rikyn; na construção de jardins e arranjos florais, salientaram-se alguns artistas, tendo sido Kobori Enchu um dos mais famosos.
Passados, mais ou menos, duzentos (200) anos, chegou a época Guenroku caracterizada por um ambiente de muita paz e suntuosidade. Nesta fase, surgiram dois grandes nomes na pintura, os irmãos Korin e Kenzan.
Bem mais recentemente, apareceram outros dois famosos pintores a quem não posso deixar de fazer referência. São eles Hooitsu e Seihou que fizeram ressurgir o estilo artístico da Era Momoyama, criando obras que até hoje deslumbram os apreciadores.
A produção de cerâmica começou a desenvolver-se no Japão, na época Kamakura. Foram construídos fornos nas regiões de Seto no Obari e Arita no Kyushu, além de outros. Mais tarde, a atividade dos ceramistas passou também a ser desenvolvida em Kyoto, onde obras famosas foram deixadas por um artista notável chamado Ninsei. Também não pode ser esquecido Chojirou, o fundador do Raku Yaki, um estilo de trabalho em cerâmica criado a partir de modelos coreanos.
Além do que já citei, quase nada mais existe para ser destacado. É necessário, ainda, lembrar o nome de um grande catalogador, Fumaiko Matsudaira, que contribuiu enormemente para o surgimento de coleções organizadas de objetos raros de cerâmica.
Há ainda outros artistas também importantes, mas sobre os quais não vou falar, porque o objetivo principal deste artigo é um estudo sobre o povo Yamato. Daí propositadamente eu ter evitado referências às manifestações artísticas de origem chinesa. Só escrevi, portanto, sobre aspectos culturais típicos do Japão.
A seguir, eu deveria também falar sobre o povo Tenson e Izumo, mas os omiti porque são fatos muito conhecidos através da História. Não preciso, pois, dizer que os militares e os generais famosos originaram-se, quase todos, desses dois povos.
Na linha Tenson, entretanto, surgiram também alguns eruditos e escritores, mas, de modo especial, ligados à cultura chinesa. É interessante notar a existência, entre os seguidores do imperador, de vários intelectuais que contribuíram grandemente para o fortalecimento do reinado. Tal fato ajudou muito na salvação do povo Tenson, que vivia sob a pressão do grupo Izumo.
Numa atitude oposta aos estudiosos da cultura chinesa, o povo Yamato seguiu uma tendência artística própria, peculiar, mais voltada para a literatura. Como resultado, deixaram uma contribuição marcante, especialmente com poemas em estilo waka e outras obras em hiragana, uma escrita caracteristicamente japonesa, criada por eles. Despertaram, contudo, pouca atenção, porque não constituíram presença marcante na guerra à qual mantinham total aversão. Deve, entretanto, ficar bem claro que, apesar de não serem pessoas voltadas a lutas, os últimos governantes desta fase, o imperador Nintoku, imperatriz Komyo e o imperador Komyo, pertenceram à linha Yamato.
A seguir, falarei sobre os nativos, os mais distantes ancestrais dos japoneses, que foram conquistados pelo imperador Jinmu e, por isso, esse povo, ainda hoje, conserva o sentimento de rancor. Dessa linha, originaram-se os comunistas do Japão, os quais, antes do término da Segunda Guerra, cultivavam grande antipatia ao imperador. Essa atitude tem origem no antigo carma oriundo das guerras de conquista. Nessa época, era também muito clara a hostilidade deles ao imperador, aos militares e aos burocratas do governo. Aparentemente parece uma atitude estranha essa forma de fidelidade a outro país, embora vivendo no Japão e comendo do mesmo arroz de seus compatriotas. Quando, porém, a linha espiritual, da alma, se torna conhecida, dá para entender claramente o motivo de se manterem fiéis à Rússia, onde, na verdade, está a origem desse povo nativo.
De acordo com o mesmo raciocínio, fundamentado na linha espiritual para estabelecer a formação do povo japonês, dá para entender o porquê de uma parte ser extremamente fiel ao imperador, enquanto outra não nutre simpatia alguma por ele, nem admite qualquer espécie de ligação. É que, de fato, a primeira corrente (fiel) tem origem no povo Tenson; a segunda (contrária) pertence ao Izumo.
De uma maneira geral, as pessoas não vêem diferença alguma entre ambas, mas não é bem assim. A linha espiritual refere-se à ligação entre as almas e permanece eternamente. Já o lado sangüíneo está sempre mudando, devido ao contato que se estabelece entre as raças. Então, mesmo sendo um povo nascido no Japão, não se sabe quais sangues se misturaram. Não é, porém, uma atitude condenável esse inter-relacionamento, uma vez que gera personalidades diferentes e mais fortes, dando, ao mesmo tempo, origem a pessoas com inteligência bastante aguçada. Na verdade, a mistura de sangue significa o acúmulo tanto de experiências, como das diversas dificuldades com as quais os seres humanos devem entrar em contato no decorrer das várias existências. Por isso, com base nessa fundamentação, embora muita gente afirme que sangue puro é importante, eu não concordo.
Pela mesma razão anterior, também acho que o parceiro do casamento deve pertencer a uma linha sanguínea diferente e, quanto mais distante, melhor; por isso, não aconselho uniões entre membros de uma mesma família. Observem que nas Américas, por exemplo, há um grande número de pessoas excelentes. Esse fato tem origem na mistura de sangue bastante acentuada nessas regiões, bem mais do que no Oriente.
Para ficar ainda mais clara a diferença entre as linhas sanguínea e espiritual, vou citar o exemplo do tear. Para tecer o pano, são necessários fios verticais que não mudam, permanecem firmes e retos durante todo o processo de tecelagem. Esse fato corresponde, na vida humana, à parte da alma que continua sempre a mesma, formando a linhagem espiritual. Por outro lado, os fios horizontais se movimentam da esquerda para a direita, dando origem à trama da qual surgirá o tecido, com várias nuances de cor. Estes segundos fios representam a genealogia sanguínea.
Agora vou falar sobre a porcentagem representativa destes quatro grupos: Tenson, Izumo, Yamato e nativos.
O maior número é composto pelo povo Tenson (chinês), seguido do Izumo (coreano). Há ainda um reduzidíssimo grupo formado pelos cáucasos (nativos). O menor de todos, entretanto, é o representado pelo povo Yamato. Eu calculo que corresponda a um por cento (1%) do total dos habitantes do Japão.


[1] Já conta com 30 deputados no parlamento e um jornal com duas tiragens diárias, de aproximadamente quatro milhões de exemplares, além de ser um partido político fortíssimo.
[2] No dia 8 de dezembro desse mesmo ano, a sede do Templo foi dinamitada e totalmente arrasada. É interessante notar que essa data corresponde ao primeiro dia do Sol no Mundo Espiritual. Foi também em 8 de dezembro de 1941 que o Japão declarou guerra aos Estados Unidos.

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