Bloco 2
Sobre a privatização do Pré-Sal
Assista acima ao vídeo da entrevista exclusiva concedida por Julian Assange ao editor do Nocaute TV, Fernando Morais.
Fernando Morais:
O senhor deve saber que o Brasil descobriu, há alguns anos, uma jazida de petróleo a 7 mil metros de profundidade, abaixo da camada de sal, que pode nos transformar numa potência petroleira internacional. E o Pré-Sal, o óleo retirado do Pré-Sal, mesmo que o barril caia a US$8,00, o Pré-Sal ainda é economicamente viável. Qual é o interesse dos Estados Unidos, que pode ser provado, especialmente na participação de Michel Temer nessa espionagem sobre o Pré-Sal no Brasil?
Julian Assange:
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| Assange diz que depósitos do pré-sal são 4 veze maiores que as jazidas de petróleo existentes no Brasil |
Nós publicamos um número de documentos a respeito das jazidas do rpé-sal na costa brasileira. Os depósitos são considerados ser cerca de 4 vezes maior que as jazidas brasileiras existentes. Então são extremamente significantes.
É caro chegar lá n fundo do oceano através do sal. Quando se chega, o petróleo não precisa de muito refinamento, então é bastante lucrativo.![]() |
| Assange diz que partidos brasileiros preferiam que a Chevron e a ExxonMobil tivessem acesso sem exclusividade, mesmo dos trinta porcento da Petrobras (financiando) |
Esse é na verdade um argumento muito interessante: qual é a melhor maneira para o Brasil licenciar os depósitos de petróleo?
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| Assange se perguntando, "O que mais beneficiaria o povo brasileiro?" |
Se um estado vai agir de maneira coerente, em competição com outros países e grandes companhias transacionais de petróleo, eles devem garantir uma receita, e a receita do petróleo é um fluxo forte de recursos que podem fortalecer o estado.
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| Primeiro argumento de Assange sobre como o estado deve agir com relação ao Petróleo. |
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| Segundo argumento de Assange sobre como o estado deve gerir o petróleo |
Também se diz que se existe muita competição na extração de petróleo, o preço cairá muito e o estado não arrecadará tanto em termos de cobranças de licenças de extração.
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| Terceiro argumento de Assange sobre o estado x petróleo |
Para mim, a parte mais interessante é quando admitiram que o mais lucrativo para o governo seria que a Petrobras tivesse o direito aos trinta porcento. Então isso é uma admissão. Por que a embaixada dos EUA alega que o negócio mais lucrativo para o estado brasileiro ocorreria se a Petrobras tivesse esses trinta por cento?
Porque a Chevron e outras grandes companhias americanas de petróleo diriam: "Se a Petrobras tem esses trinta porcento, não vale a pena para nós", "não vale a pena para nós fazer a extração. Nós poderíamos talvez nos envolver no financiamento". Mas a (russa) Gazprom e companhias chinesas de petróleo como China Oil poderiam ser capazes de cobrir lances nas licitações fazendo que a Chevron e Exxon tenha que investir mais dinheiro, porque eles conseguem fazer com menos lucro.
Por quê?
Porque os chineses só querem o petróleo, eles não ligam para o lucro. Poderiam apenas equilibrar as contas. E poderiam aportar mais recursos ao Brasil.
Portanto os chineses, sob tal acordo, assim como outras empresas petrolíferas estatais, sempre poderão ganhar licitações em cima da Exxon que tem receita de 269 bilhões de dólares ao ano, é uma empresa muito grande. Então acho que é muito interessante.
Essa questão da Petrobrás é realmente uma questão sobre que tipo de estado o Brasil quer ser, se ele quer ser um estado forte ou quer ser um estado muito fraco, que tem grandes petrolíferas estrangeiras e transnacionais tomando conta de seus recursos naturais?
Talvez você queira ver por outro lado, que não acho que ninguém tenha olhado desta maneira no Brasil, que seria:
Quais são as grandes instituições estatais brasileiras? Quais são as mais fortes?
Acho que é o exército e a Petrobras.
Acho que são instituições públicas muito fortes no Brasil. E acho que, em comparação, todas as outras instituições são fracas.
Então creio que fragilizar a Petrobras, é uma forma de fortalecer os militares como centro de gravidade da organização do estado.
Eu acho que isso pode ser um problema.
Porque há duas razões que justificam a elevação do pré-sal a assunto prioritário nas políticas internas:
A Petrobrás é considerada uma aliada do PT, porque Dilma esteve lá, colocou gente dela lá e as políticas dela beneficiaram a Petrobras, e então institucionalmente a Petrobras sente que seus interesses estão melhor servidos pelo PT. Então, isso faz com que outros partidos queiram reduzir o poder da Petrobras, tirando os ganhos dela.
Portanto uma maneira de trocar favores com os Estados Unidos é facilitar para a Chevron e a ExxonMobil o acesso a partes desse petróleo.
Nas mensagens vazadas por nós consta um desejo constante dessas petroleiras americanas de ter o mesmo acesso que a Petrobras tem. Portanto, é assim que se trocam favores com os americanos.
São diretrizes filosóficas diferentes de como se quer um estado.
E que tal um capitalismo de estado? Porque a Petrobras pratica é um capitalismo de estado.
Tem a estrutura de uma empresa mas cuja organização é controlada pelo estado.
Qual a diferença entre esse tipo de controle e o controle que vem das leis e acordos? Você tem que nos dar certa porcentagem para fazer o serviço para poder ter esses direitos de extração, você não pode agir de determinado modo ou sua companhia é multada ou pessoas podem ser processadas. Isso é controle da indústria petrolífera.
O que tem acontecido amplamente desde o começo dos anos 80 nos países em desenvolvimento e desde os 70 em países desenvolvidos: Tem sido uma mudança de como se regulam instituições.
Mas isso só funciona quando o sistema de regulação e o sistema de legislação são incorruptíveis.
Aí não importa quem controla a instituição, você controla as leis.
Mas isos só funciona se você conseguir forçar o cumprimento das leis e detectar se as leis estão sendo corrompidas. E no setor de petróleo tem tanto dinheiro a mais que isso acaba se tornando impossível.
Já temos um governo brasileiro muito corrupto, com centenas de parlamentares brasileiros sendo investigados por alguma forma de corrupção. Portanto, se você permite à Chevron, ou exxonMobil ou Gazprom ou PSN Oil ganhar bilhões de dólares no Brasil, o quesão dez milhões em propina? Isso não é nada quando dezenas de bilhões de dólares estão em jogo.
Isso é uma questão muito interessante de como regular organizações muito ricas na nossa sociedade, como as companhias de petróleo. E quais características dominantes você quer que o estado tenha. Você quer equilibrar o exército, com , talvez, petróleo? Há outra maneira de ter esse equilíbrio?
Fernando Morais:
O senhor acredita que o assédio dos EUA sobre a Venezuela que já dura quinze anos teria as mesmas razões por trás disso? Estariam atrás do petróleo?Julian Assange:
Pelo menos parte da pressão sobre a Venezuela vem de interesses de companhias petrolíferas americanas.Se você olhar de maneira ampla as atividades do departamento de Estado dos EUA, na verdade nem seria possível, porque são tantas mensagens publicadas, algo como uma em dez mensagens são a respeito de petróleo.
Rex Tillerson, que é o CEO da ExxonMobil foi nomeado como próximo secretário pelo Trump.
E aí vêm democratas e dizem: "Oh não! Isso é terrível! Um executivo do petróleo na cúpula do poder! Essas multinacionais corruptas estão tomando conta do governo!"
Mas sempre foi assim.
Agora será mais exposto, com a presença de alguém como Rex Tillerson, CEO da Exxon.
O que quero dizer é que o que podemos ver nas mensagens (vazadas) é que o Departamento de Estado está constantemente focado em tentar conseguir bons acordos e tentar manipular em nome da Chevron e Exxon.
No governo de Obama, quem foi o maior visitante à Casa Branca? Um lobista do Google.
Quem foi o visitante número dois?
Visitava uma vez por semana, em média. Um lobista da Exxon.
Então o governo americano sempre representou as forças mais organizadas da sociedade. As forças organizadas mais ricas, então essas são as companhias principais, e tradicionalmente essas são as empresas de petróleo, ou companhias como Lockheed Martin e agora estamos indo para uma situação que temos Google e Facebook também.
Fernando Morais:
Voltando ao Brasil, sobre Michel Temer. Na página dele do WikiLeaks diz que ele falou com alguém que não se pode identificar. É uma conversa privada com um oficial norte americano? Quantas vezes isso aconteceu e o que isso sugere?Julian Assange:
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| Julian Assange sobre Temer: Não existem evidências que ele seja um espião pago em termos de dinheiro |
Isso não é para dizer que ele é um espião pago pelo governo americano. Eu não sei, não existem evidências que ele seja um espião pago em termos de dinheiro. Estamos falando de algo mais, estamos falando de construir uma boa relação de forma a ter trocas de informação de parte a parte e apoio político mais adiante.
Fernando Morais:
Há uma outra passagem vazada por WikiLeaks que é uma palestra da secretária de estado, Hillary Clinton, para o Banco Itaú nos Estados Unidos, em que ela fala de fronteiras livres. Seria isso um prenúncio do apoio dela ao golpe no Brasil?Julian Assange:
Em outubro publicamos palestras da Hillary Clinton pelas quais ela foi secretamente paga. As transcrições de alguns trechos revelam que o Staff de campanha dela temia que isso se tornasse público.![]() |
| Hillary Clinton, políticas neoliberais favorecendo multinacionais americanas contra China |
Então, muito material interessante sobre qual a posição dela quando fala com Goldman Sachs, quando fala com bancos brasileiros de investimento.
Ela é uma neoliberal agressiva, essa é a posição dela, beligerante em relação a expansão do império americano, faminta por cimentar acordos de aproximação e implantar mudanças ardilosas como o TTP e o TTIP. Propõe realinhamentos estratégicos com o objetivo de fazer duas coisas: dar as multinacionais americanas o que elas querem.e cercar a China, fazer com que seja mais difícil os chineses crescerem.
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| Hillary Clinton falava sobre energia com bancos de investimento (Itaú) no Brasil, estava defendendo livre trânsito de produtos de energia |










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